quinta-feira, 16 de julho de 2009

New Age Ícaro (O Hedonismo de um Velho de Guerra)

Eu daria tudo
Que um dia eu sonhei em ter
Pra voltar a ser um homem voltando da guerra,
Mesmo sem ninguém a me esperar.

Sem beijo de esposa ou abraço de filho.
Afinal, eles nunca me fizeram falta.
Tudo no mesmo lugar,
Maldito marasmo que eu gosto de ter.

Ser frígido e puro,
Dormir na areia e sonhar com o sol,
Subir num altar e cuspir sem medo
No peito de um homem crucificado.
[Quem foi que disse que é pecado?]

Andar pelos campos abertos,
Desviar dos corpos mortos
E espezinhá-los se estivessem a sorrir.

Olhar os seus olhos no espelho,
O batom na sua boca disforme,
Tudo o que um dia eu já amei.
Incondicionalmente.

Atravessar rios de sangue
E cheirar a cor escarlate
Que existe aqui dentro de mim,
Mas que eu só conheço porções mililítricas.

Pensar que suas unhas negras
Não me podem mais arranhar.
Cair em contradição com o seu eu.

E ter o prazer de ver,
Na ponta aguda da lança,
Alguém mais feliz do que eu.

E, ao fim, cair por terra.
Sujar os dedos e me entregar
Sem ter vergonha de chorar.

Chorar as lágrimas salgadas
Que um dia você secou,
Que em êxtase você lambeu,
E que agora me envelhecem.

Enfim sonhar...
Pisar na cratera mais funda da lua,
Cravar meu brasão hasteado
E lá construir meu reinado.

Tudo isso e mais um pouco
Se eu não estivesse preso nesse espelho,
Se eu fosse eu sem você
E se o sol não tivesse derretido minhas asas.


Se à primeira vista parecer nonsense, leia de novo. E de novo, e de novo e de novo.