domingo, 29 de março de 2009

Não-passional

Estamos em tempo de Sodoma e Gomorra. Não sei se foi Deus – nem sei se há Deus –, mas botaram fogo e enxofre na Terra. A rosa que nasce no quintal é exceção: comum é o chorume que polui os lençóis freáticos, o ácido sulfúrico que queima a pele, o gás carbônico que escurece o ar. Trivial é a bala que cruza o morro; bala Juquinha é luxo. Corriqueiro é o menino cheirar cocaína; cheiro de alfazema é exceção. Banal é a desgraça; quem vê graça é alienado.

Quem é o culpado? Eu, que, sentada atrás de um computador, escrevo sobre violência? Você, que, sentado à frente de um computador, lê sobre violência? Eles, que, sob um palanque, prometem o mundo e cumprem migalhas? Eles, que, escudados por um três oitão, dominam pelo uso da força? Ou Ele, que, sobre uma nuvem macia e calçando chinelos de corda, assiste de camarote o Homem sendo o Lobo do Homem e não intervém?

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